Equipe técnica do serviço social aposta na sensibilização das famílias para erradicar trabalho infantil

WhatsappG+TwitterFacebookCurtir

30/11/2018|

Por

O técnico psicólogo Caio Yudji e equipe de orientadoras da região do M´Boi Mirim

O Sistema de Garantia de Direitos de Crianças e Adolescentes (SGDCA) é composto por diversos atores. Cada um deles tem um papel essencial na proteção das vítimas do trabalho infantil.

O técnico do Serviço Especializado de Abordagem Social (SEAS) é responsável por gerenciar o trabalho dos orientadores socioeducativos e estruturar o atendimento das famílias.

Conversamos com Caio Yudji, técnico psicólogo do SEAS da região do M´Boi Mirim, que nos contou um pouco sobre a rotina da profissão. Confira trechos da conversa:

Como é o seu trabalho no SEAS?

O SEAS é o serviço especializado na abordagem social. No nosso caso, trabalhamos com dois públicos, crianças e adolescentes em situação de trabalho infantil e adultos em situação de rua.

Temos nove orientadores, que se dividem entre os dois serviços. Eu sou o responsável técnico pela área do trabalho infantil e organizo o trabalho dos orientadores. Atuamos na construção de vínculo com as famílias e na articulação com os serviços do território.

Como é o seu relacionamento com os orientadores?

Estou sempre em contato com eles para receber as demandas que eles trazem das ruas e fazer discussão técnica e psicossocial daquilo que eles descobrem na visita às famílias.

O trabalho técnico é nesse sentido de dar suporte de como agir em cada caso ou como ter uma leitura mais aprofundada nos atendimentos. A troca entre os orientadores e os técnicos possibilita a compreensão de cada caso.

Nas visitas às famílias, os orientadores checam se as pessoas já são atendidas pelo serviço social, se as crianças estão matriculadas na escola e se têm acompanhamento na saúde, por exemplo.

Também verificamos a questão da documentação, como Carteira de Identidade, Carteira de Trabalho e de Vacinação. Nosso trabalho é também garantir esses direitos – tanto do ponto de vista de documentação, quanto de acesso a serviços de cultura, lazer e desenvolvimento psíquico. Muitas vezes gosto de acompanhar as orientadoras nas visitas para aprofundar o olhar para cada caso.

Além do atendimento, qual é a principal estratégia para mudar tal realidade?

Gosto muito de trabalhar a questão dos vínculos comunitários e troca de experiências. As visitas são importantes para conhecer profundamente a condição psicossocial da família, mas eu acho que é preciso sempre realizar vivências em comunidade.

Pensando nisso comecei a organizar encontros para troca de experiências das famílias. Antes essas reuniões eram em formato de palestra. Mas eu acredito que os próprios usuários dos serviços têm muito a contribuir.

A gente aprende na troca de experiências e as histórias trazem mais significado do que uma palestra. A mudança na abordagem das reuniões foi muito positiva. Agora reunimos as famílias uma vez por mês.

Como é abordada a questão do trabalho infantil?

Nós começamos a falar sobre trabalho infantil a partir da história de vida das famílias. Muitas delas têm o clico se repetindo. Os avós colocaram os pais para trabalharem desde cedo e eles por sua vez repetem o mesmo com seus filhos.

Eu busquei uma proposta em que principalmente as mães, geralmente únicas responsáveis pela família, pudessem se ver e resgatar um pouco da infância e adolescência delas. A ideia é gerar uma reflexão de que somente uma infância diferente poderá proporcionar um futuro diferente aos filhos.

Somente longe do trabalho infantil e dentro das escolas será possível quebrar o ciclo da pobreza. Quando elas falam sobre a vida delas e ouvem as outras mães, elas se identificam muito. É nessa troca que ocorre a mudança.

O nosso trabalho é importante para que as crianças e adolescentes se desenvolvam de forma plena. Vivemos em uma sociedade que valoriza muito o trabalho e o capital, mas o desenvolvimento psíquico e emocional das crianças é essencial.

Elas precisam ter acesso ao esporte, cultura, educação e lazer. As pessoas acham que estar no trabalho infantil é bom, pois garante a entrada ao mercado, mas na verdade se o ser humano não se desenvolve como criança e adolescente não vai conseguir se desenvolver como adulto, pois ficará eternamente preso ao mercado informal. Não vai estudar e nem ter qualificação para se profissionalizar e acesso trabalho digno.

Quais são os principais desafios?

Somos nós que representamos o Estado na oferta de caminhos que solucionem esse conflito. Infelizmente os serviços são muito precários. As vezes precisamos esperar de seis meses a um ano para conseguir uma vaga de contraturno escolar para a criança.

É difícil oferecer uma bolsa de 200 reais por mês para uma criança que ganha 100 reais por dia no farol. É complicado lutar contra a corrente. Por isso apostamos tanto na sensibilização e no trabalho psicológico com as famílias.

 

As plataformas da Cidade Escola Aprendiz utilizam cookies e tecnologias semelhantes, como explicado em nossa Política de Privacidade, para recomendar conteúdo e publicidade.
Ao navegar por nosso conteúdo, o usuário aceita tais condições.