publicado dia 01/10/2018

Participando hoje e construindo um novo amanhã

por Lucas Ansiliero

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01/10/2018|

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Para melhor representar o que é uma participação pública, descrevo um pouco sobre minha militância nos Direitos das Crianças e Adolescentes e a luta pela participação nos espaços  políticos,  culturais  e  sociais. Frequentemente dialogando e interagindo com muitas crianças, adolescentes, jovens e adultos, possuo uma ampla visão de como os direitos básicos viram privilégios de poucos, não beneficiam a quem realmente necessita, excluem classes ou grupos, deixam de lado necessidades e satisfazem desejos.

Vejo a vontade e a determinação em muitos que querem fazer a diferença, que buscam ideais e bases para que possam se apoiar e crescer cada vez mais na busca de uma representação que atenda seus anseios e convicções. Observando a importância de centenas de jovens ativistas sociais como eu, em fazer com que a voz dos que não são ouvidos seja compreendida e respeitada, cabendo à sociedade oferecer as ferramentas e o apoio necessário para que isso de fato aconteça.

A presente coluna busca compreender como se dá a participação política dos jovens na sociedade, e as dificuldades enfrentadas por quem busca se incluir e participar, tendo interesse para se envolver e conhecer, desenvolvendo temas, debates e decisões, percebendo-se a necessidade de uma discussão sobre o assunto, visto que a participação tornou a democracia mais ativa na vida das pessoas. Comentando sobre minha experiência de envolvimento ao levar socialização e desenvolvimento a milhares de crianças e adolescentes que até então não possuíam conhecimento sobre o poder que sua voz exerce na sociedade.

Participação é contestação, ou seja, não aceitar o que foi imposto, buscando e exigindo a mudança, não sendo apenas um instrumento para a solução de problemas, mas sobretudo uma necessidade fundamental do ser humano, afirmando-se a si mesmo, interagindo com os demais, expressando seu pensamento reflexivo, em uma sociedade que permita e facilite a participação igualitária. O envolvimento cresce quando existem oportunidades de praticá-lo, aperfeiçoá-lo, transformando-se em uma grande possibilidade de acesso a milhares de pessoas que não possuem conhecimento de seus direitos ou simplesmente não os têm assegurados, contribuindo para o próprio desenvolvimento da sociedade. Mas será que todos nós temos condições de participar?

A participação é um direito reconhecido e incontestável, conforme o artigo 21 da Declaração Universal dos Direitos Humanos, todo ser humano tem o direito de tomar parte do governo de seu país, quer diretamente, quer por intermédio de representantes livremente escolhidos. Ou seja, se todos são essencialmente iguais, não se justifica que o poder das decisões se concentre nas mãos apenas de alguns.

 

O Brasil, teve em sua história muitos anos de regimes autoritários e excludentes, mas com a Constituição de 1988, ocorreram mudanças significativas no que diz respeito à participação social e democrática. Não faz sentido, portanto, um país que adota a democracia como forma de governo não possibilitar que seus cidadãos participem ativamente das decisões políticas, restringindo esta participação social apenas ao ato de eleger seus representantes. É evidente que o sistema atual tende a impedir essa participação, porém, a situação muda quando os cidadãos se tornam responsáveis e capazes de indagar os seus representantes, interagindo e reivindicando em movimentos pelos direitos civis, para que as classes dirigentes cumpram o seu dever.

Cada cultura possui seus valores morais, uma conduta, padrões e limitações impostos desde de cedo dentro das famílias, crianças e adolescentes eram obrigadas a educarem-se aos interesses, valores e crenças do meio em que viviam, no entanto, não se possuía o entendimento de participação, não era explicado e debatido como eles poderiam estar atuando e manifestando seus pensamentos. Quando um indivíduo estava em busca pela informação, o mesmo normalmente era manipulado pelos próprios responsáveis por garantir que ele chegasse até a mesma.

Eu, Lucas Ansiliero tive a triste mas real experiência que ocorre com milhares de brasileiros, quando no ano de 2016, na segunda série do ensino médio, dias antes das eleições municipais, após ter feito o título eleitoral e entusiasmado para cumprir com meu direito de exercer um dos papeis mais importante na participação dos cidadãos, o voto, dois professores da escola onde estudava ofereceram aumento de minhas notas no boletim escolar em troca de meu voto em seus candidatos. Isso me deixou realmente desacreditado no que estava acontecendo, pois até então pessoas pelas quais possuía respeito, e admiração, estavam cometendo um grave crime, talvez manipulados por um sistema que burla as leis de maneira antética e covarde para conseguir chegar ao poder.

Uma pesquisa do instituto Datafolha divulgada no dia 17 de junho deste ano indica que 62% dos brasileiros entre 16 e 24 anos desejam morar no exterior. A corrupção, promessas não cumpridas, educação desatualizada e falta de oportunidade são algumas das razões que causam uma desesperança no jovem sobre o futuro do país.

Atualmente, não se busca mais o debate e entendimento das situações, apenas se ignora, sem nenhum posicionamento ou opinião, os indivíduos passaram a ser indiferentes diante da realidade, abandonando a tentativa de resposta ou até mesmo de interferir e querer dar um novo sentido à realidade, tornando a desigualdade, a ignorância, a violência e o desrespeito, um hábito. E todo aquele que por algum motivo se isola, e não participa dessa convivência, renuncia ao poder e se torna impotente, deixando de mostrar sua força e interesse que conduzem ao diálogo e à ação.

Nos últimos anos, através dos meios de comunicação, percebemos uma mudança nos discursos e transformações significativas nas práticas que visam à inclusão participativa de crianças e jovens na esfera pública e no processo de desenvolvimento social. A comunicação é garantida quando temos liberdade, direitos sociais e políticos, não estando privados de qualquer informação que se tenha interesse. Dessa maneira, assegura-se a participação através da comunicação, para o desenvolvimento de uma cultura de direitos humanos, exigindo respeito aos valores éticos e sociais.

Nós jovens necessitamos cumprir nosso papel de transformar: ou mudamos o sistema, ou ele acaba nos mudando. Somos informados, muito interessados e cheios de ideias, pesquisamos, temos vontade e energia para fazer acontecer, e sonhamos em construir um novo Brasil.

É possível qualquer mudança se todos tomarmos a responsabilidade de mostrar a realidade e as contradições, os limites e as possibilidades de constituição de um espaço público, dizer como deve ser e cobrar a efetividade das ações e propostas, mas também contribuir para sua efetivação, não criando apenas políticas públicas para nós, mas com a nossa contribuição na formulação e realização.

Sem esse olhar crítico e reflexivo, corre-se o risco de haver um retrocesso na democracia. Assim, essas discussões nos inspiram a manter uma militância na área, lutando por uma cultura de fato participativa, interessante e, principalmente, acessível a todos.

O protagonismo das crianças e adolescentes na luta por seus direitos

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