Livro traz à tona a questão do trabalho infantil doméstico

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31/10/2016|

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O trabalho infantil doméstico é uma das piores formas de trabalho infantil, mas ainda negligenciado e, não raro, aceito socialmente. Na tentativa de analisar a complexidade dessa questão, que inclui fatores históricos e sociais, a jornalista e pesquisadora Danila Cal lançou o livro Comunicação e Trabalho Infantil Doméstico: políticas, poder, resistências, fruto de sua premiada tese de doutorado realizada em 2014 pela Universidade Federal de Minas Gerais. Para baixar o livro, clique neste link.

“Eu vi diferentes modos de ação dessas mulheres, modos precários de resistência, mas eles existem e devem ser reforçados", afirma a pesquisadora em relação ao trabalho infantil doméstico. (Crédito: iStock)

“Eu vi diferentes modos de ação dessas mulheres, modos precários de resistência, mas eles existem e devem ser reforçados”, afirma a pesquisadora em relação ao trabalho doméstico. (Crédito: iStock)

Reflexões sobre o Trabalho Infantil Doméstico (TID)

A publicação analisa como o TID foi representado e noticiado pelos meios de comunicação no Pará durante cinco anos, e traz depoimentos de trabalhadoras e ex-trabalhadoras domésticas infantis, buscando compreender as relações de poder envolvidas neste processo. Em 2015, a tese que originou o livro ganhou o Prêmio Compós de Teses e Dissertações Eduardo Peñuela, pela Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação.

Lidando com a questão desde o início do ano 2000, Danila, que também é integrante do Fórum Paraense de Erradicação do Trabalho Infantil e professora da Universidade da Amazônia (UNAMA) explica que, no doutorado, seu interesse foi dar voz às vítimas deste tipo de trabalho infantil, uma das piores formas segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT). De acordo com Danila, a maioria dos estudos sobre TID tratam das relações de poder pelo viés da sujeição do trabalhador doméstico e da dominação, mas que em sua pesquisa optou por outra ótica.

“Não devemos pensar o poder apenas como dominação, mas como forma de empoderamento, resistência e solidariedade, o que seria a base de uma ação coletiva para enfrentar e resolver o problema’’, diz Danila. Por isso, as adolescentes e mulheres ouvidas em seu estudo foram colocadas sobretudo como personagens e não como fontes, e como pessoas capazes de discutir a própria temática. “A capacidade de crítica e reflexão dessas adolescentes sobre a situação que estão vivendo foi surpreendente.’’

A reportagem abaixo, produzida pela TV Brasil, também traça um perfil do trabalho infantil doméstico.

 

A importância de ouvir as vítimas

Danila Cal, pesquisadora das questões ligadas ao trabalho infantil e professora da Universidade da Amazônia (UNAMA)

Danila Cal, pesquisadora das questões ligadas ao trabalho infantil e professora da Universidade da Amazônia. Crédito: Arquivo pessoal

Entrar em contato com histórias de exploração de crianças não é uma tarefa simples. Danila conta que manter o distanciamento para a elaboração da pesquisa foi um grande desafio, principalmente por envolverem violência e comportamentos machistas. “Além disso, todas as adolescentes que entrevistei têm uma carga de trabalho doméstico extra muito grande dentro da própria casa, e isso não é algo problematizado”, explica.

Segundo a autora, com a pesquisa foi possível concluir também que a forma como o trabalho infantil doméstico foi colocado na cena pública prioriza as formas mais exacerbadas de trabalho infantil. “Os jornais ajudaram na mobilização contra a exploração de crianças, mas nessa ânsia de sensibilizar para a questão, formas menos exacerbadas de exploração, como trabalho doméstico, não tiveram voz nem discurso. Faltou discutir publicamente que em pequenas coisas também há violações de direito, assim como desconstruir o discurso dos patrões, que colocam um distanciamento entre o que praticam e as formas mais críticas de trabalho infantil’’, diz.

Questões históricas e sociais, no entanto, não devem servir como princípio para transformar o trabalho infantil no Brasil como algo cultural, segundo Danila. “É como se estivéssemos dando uma justificativa para uma não resolução do problema. Acho que temos que mostrar que é uma questão que precisa da nossa ação para ser resolvida. A cultura é dinâmica”.

Dessa forma, Danila acredita que devemos ouvir cada vez mais essas mulheres vítimas de trabalho infantil doméstico, pois elas têm muito a contribuir no planejamento de políticas públicas e ações de enfrentamento e resistência ao TID. “Eu vi diferentes modos de ação dessas mulheres, modos precários de resistência, mas eles existem e devem ser reforçados.”

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